quarta-feira, 11 de maio de 2011

Como Antonio veio ao mundo

Nossa história começa no dia 01/07/10, de manhã cedo, com um teste de farmácia positivo: muita emoção e algumas lágrimas, nosso primeiro mês tentando engravidar tinha rendido!

Como eu sabia que meu ginecologista de rotina não é obstetra, procurei um meio de conseguir um médico sem espalhar a notícia. Eu queria muito que meu bebê nascesse no Hospital São Luiz e então liguei pra lá, eles me deram uma indicação de uma clínica cujos médicos atendem partos lá. Primeira consulta, tudo legal, o médico me pareceu muito bacana, o papo foi bom. Pra mim, tudo seria muito simples: a gravidez ia chegar ao fim e meu filho viria ao mundo lindo e saudável.
Porém as coisas começaram a mudar na minha cabeça no dia em que li o relato de parto de uma amiga, que tinha tido um parto domiciliar havia alguns meses e indicava sites e livros que tratavam do assunto: parto. Putz, me emocionei demais, foi uma cortina aberta diante dos meus olhos. Fui atrás dos sites que ela indicava e me deparei com notícias alarmantes: a taxa de partos normais no Brasil é baixíssima, em alguns lugares chegando a ser o inverso do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. E comecei a pensar no parto.

Eu sempre ouvi que minha avó teve dificuldades nos dois primeiros partos e que minha mãe não teve dilatação no seu primeiro parto e que por isso eu e meus irmãos nascemos de cesárea. Na minha cabeça, eu ia entrar nessa condição genética e não conseguiria parir também. Mas sempre acreditei na natureza e sabia que o parto tinha que funcionar, afinal de contas não era possível que a espécie tivesse sobrevivido por tantos anos se não fosse possível parir.

Chegou o dia da consulta em que eu resolvi colocar o assunto em pauta: "e aí, sr. Médico, como é essa história de parto?". E aí, a resposta que está se tornando um clássico: "você não precisa se preocupar com isso agora, cuide do quarto e do enxoval, é muito cedo", além de uma série de barbaridades que ele falou fechando o assunto com "mas se você quer parto normal, tudo bem, eu respeito". Saí de lá achando que bastava, então, eu querer parir e pronto, meu bebê ia sair por onde a natureza manda! Mas que se precisasse ser cesárea, ué, fazer o que, né?
Ah, como eu estava enganada... Fazendo aula de hidroginástica para gestantes, chega uma hora que o assunto surge, e uma delas comentou que estava frequentando reuniões no GAMA, que ia contratar uma doula, que mudar de médico não era coisa do outro mundo, que era possível encontrar um médico que segurasse a onda do parto até o final... Hummm, interessante, voltei a acreditar que dava pra ser!

Entrei no site do GAMA. Li muitos relatos, e então descobri que o hospital onde eu queria parir tinha suítes para parto humanizado... Curiosamente, meu querido médico não tinha me dito nada sobre isso!

Mais ou menos na mesma época, aquela amiga do parto domiciliar ficou sabendo que eu estava grávida e me contou de uma lista de discussão, me falou do GAMA... Segui os conselhos cegamente e em pouco tempo lá estava eu inscrita na lista de e-mails das Maternas, e mais uma cortina se abriu diante dos meus olhos. Esse assunto não podia mais esperar e eu escrevi pra Ana Cris. Foi um dia de muitas trocas de e-mail, pra mim muito intenso, chorei pra caramba quando me deparei com a realidade que eu tinha tentado esconder: meu médico ia acabar me cortando mesmo que eu não quisesse. Fui atrás da colega de hidro e pedi o contato da médica dela, cheguei às maravilhosas mãos da Dra. Cátia. Que ambiente gostoso, conversa boa, sensação de segurança! Ela mesma foi me guiando: plano de parto, indicações de doulas, sugestões de pediatras. Fui fazendo cada coisa mas não me prendi ao plano de parto, pois achava que poderia me frustrar demais caso algo saísse diferente do planejado. Fui conhecer a Maíra, que eu tinha escolhido pra ser minha doula: abraço apertado, olhar confiante, que mulher porreta!

A gravidez foi chegando ao fim, eu estava já muito cansada, emocionalmente desgastada, ansiosa. Cada uma que paria me deixava mais ainda: "e o meu, não vem?". Completei 40 semanas na quinta feira antes do carnaval. Foi nesse dia que conheci Dra. Sandra, que ia completar a equipe, outra conversa boa. Ai, ansiedade!

No sábado de carnaval, algumas contrações levemente doloridas e sem a menor cara de trabalho de parto, fui passear no shopping com o maridão. Domingo, as mesmas contrações com a mesma cara e fomos tomar café da manhã na padaria, passear, curtir. Provavelmente aquele era nosso último domingo antes da nossa vida mudar completamente.

Segunda de carnaval, acordo às 5h da manhã com contrações fortes, doloridas de verdade e começo a contar: 10 em 10 minutos, duração média de 1 minuto. "Ei, amor, acorda, estou com contrações ritmadas! Nosso bebê vai nascer!" Liguei pra Maíra, ela me pediu pra contar por uma hora e dizer pra ela como estava. Depois de uma hora, nos falamos de novo e ela resolveu vir pra minha casa. Chegou, conversamos, e ela quis fazer um rápido exame: batimentos cardíacos do bebê, ótimos, dilatação, 3 cm. Nossa, fiquei tão feliz com isso, meu corpo estava fazendo seu trabalho, aquilo era maravilhoso! Ela foi atender outra paciente e nós ficamos em casa observando o progresso do TP. Deitei no sofá e tentei descansar entre as contrações, até consegui cochilar enquanto o Marcos foi no mercado buscar algumas coisinhas. Na volta ele fez almoço, almoçamos e o intervalo foi diminuindo, a dor foi ficando mais intensa... Marcos ligou pra Maíra e ela sugeriu que fôssemos pro hospital. Tomei um banho bem quente e adorei aquela sensação que a água provocava durante a contração. Chegamos no hospital em 15 minutos. Na triagem, um exame de toque e cardiotocografia. Enquanto isso, Ana Cris chega, acompanha o exame e a enfermeira nos diz: 4 cm de dilatação. Ana Cris nos propõe: querem voltar pra casa? Eu quis, e no caminho do elevador a obstetra de plantão nos procura: já passou de 40 semanas, seria legal verificar o líquido pra confirmar ausência de mecônio... E lá vamos nós pra sala de triagem de novo. Bolsa íntegra, líquido claro, e outro exame de toque: 5 para 6 cm. Uau! Resolvemos ficar, aparentemente Antonio nasceria em poucas horas!

Fui para uma sala de pré parto onde fiquei embaixo do chuveiro apoiada numa bola suíça. Foi bem tranquilo ficar ali e não me lembro mais porque decidi ir pra cama. Sei que pedi pro Marcos ligar a tv e logo nos chamaram pra ocupar a sala de parto. Na sala de parto, sentei novamente na bola ao lado da cama, Marcos e Maíra se revezavam fazendo massagens na minha lombar. Comi alguma coisa da bandeja de jantar do hospital. Em algum momento próximo a esse, a Dra. Cátia chegou. Não tenho clareza de como os fatos se seguiram a partir daqui, mas um exame de toque que acusava 7 cm de dilatação me liberou pra ficar na banheira. Enquanto estava na banheira, Marcos ficou comigo e Maíra massageou minhas mãos com óleo de alecrim, Ana Cris trouxe um sorvete de morango que eu não conseguia morder direito. Fiquei ali até que comecei a ter a sensação de pressão baixa e pedi pra sair. As dores estavam muito fortes e eu gritava muito a cada contração. Subi na cama, outro exame de toque (agora não me lembro mais quantos cm) e Dra. Cátia sugeriu estourar a bolsa, na esperança de que isso fizesse o bebê descer. Ok, bolsa estourada e entei na bola ao lado da cama de novo, gritava dentro do travesseiro, Maíra massageava minhas costas, eu pensava: "por que engravidei? por que fiz isso comigo?". Pedi pra ir novamente pra água e sentei na banqueta de parto dentro do box, Marcos com o chuveirinho jogava água quente nas minhas costas. Foi nesse momento que eu comecei a perguntar pra Maíra se podíamos fazer mais alguma coisa, que tava doendo demais, eu não conseguia descansar entre uma contração e outra. Ela me olhava e dizia: "Camis, essa é a parte mais difícil, já vai acabar, você consegue, vamos". Voltei pra cama, outro exame de toque: 8 cm com edema de colo. Ana Cris me orientou a não fazer força durante a contração, nem pra gritar, porque isso estava causando esse edema. Mas eu sentia vontade de expulsar o bebê, não conseguia controlar. Perguntei o que poderia ser feito e ela me explicou: podemos aplicar um medicamento na veia pra minimizar a dor ou podemos chamar o anestesista pra fazer uma analgesia peridural. Pedi o medicamento intravenoso. Em cinco minutos, pedi analgesia. Ana Cris me explicou que a analgesia podia me fazer evitar a força durante as contrações e eliminar o edema de colo. Quando o anestesista chegou, eu já estava mais descansada.

Ele fez a analgesia enquanto eu apertava com força as mãos da Ana Cris durante as contrações. E então elas ficaram espaçadas, mais curtas... Mas eu ainda as sentia, porém sem dor. Lá veio outro exame de toque e supresa: o bebê tinha descido e já dava pra ver que ele vinha chegando. Marcos viu e me olhou confiante, feliz. Aí foi a maior manobra pra "desmontar" a cama e colocar a banqueta de parto embaixo de mim. "Vamos, faz força durante a contração". Logo deu pra ver pelo espelho os cabelos do meu bebê saindo, e pouco depois ele saiu todo de uma vez - e direto pro meu colo!

Sentir aquele bebê quentinho, molinho, gostoso, no meu colo... Ele chorou com muita força, espirrou e mamou perfeitamente, tudo isso em 7 minutos. Era como se nos pertencêssemos desde sempre. Eu o tocava para decorar cada parte do seu corpo. Ficamos ali por um tempo, não sei quanto, mas foi um tempo maravilhoso. Marcos cortou o cordão umbilical, e a partir daí eu não prestei atenção em mais nada, meu Antonio estava ali.

Gostaria de agradecer ao trabalho destes profissionais que se dedicam ao parto. Parto mesmo, como ele sempre foi. Trazer pessoas ao mundo é uma tarefa nobre. Agradecer à Maíra, minha doula, à Ana Cris, à Dra. Cátia, à Dra. Sandra. Ter vocês como equipe que deu boas vindas ao meu filhote foi tudo de bom! Gostaria de agradecer a presença do Marcos como companheiro, que me apoiou em cada fase e cada decisão e me mostrou que vai ser muito legal a nossa família.

Alguns dizeres finais:
- Antonio não teria nascido no momento certo se eu não tivesse mudado de médico pelos seguintes motivos: ele pesou 4,4 kg ao nascer (bebê muito grande, não teria condições de nascer de parto normal), a gestação durou mais de 40 semanas, eu fiquei no hospital em trabalho de parto por mais de 12 horas, ele nasceu às 3h da manhã de uma terça feira de carnaval;
- Ao fim me dei conta de que não se tratava de "querer normal" no que diz respeito ao parto e sim buscar para mim e para o meu filho uma posição acolhedora, humana, que respeitasse meu corpo e seu nascimento.